sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Apanhadora de conchas

Há quantos anos apanho conchas na areia da praia? Tenho uma coleção delas, por todos os lados. Um dia me disseram que as conchas marinhas são as asas partidas dos anjos caídos.
Quando o mar ressaca, os anjos caem apunhalados pelos seus próprios desejos, e deixam as suas asas na beira do mar. Desde então, na maré baixa, saio à procura das mais belas espécies. Outrora bivalves brancas e enrugadas; hoje, coloridas e ornamentadas.
Ainda na praia, avisto os anjos caídos, curvados e sôfregos a procura das profundezas mais execráveis. Tornaram-se criaturas diabólicas sem a presença da luz, e indignados se escondem pelas sombras dos homens. Afasto-me, não sem sentir dó dessas almas frívolas e atormentadas.
Li em algum lugar que os anjos, como os humanos, têm livre-arbítrio: podem fazer escolhas. E alguns decidem deixar suas relíquias preciosas a seres que podem compreender as suas agonias.

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