segunda-feira, 18 de junho de 2018

Das exortações

                                                                           
Meu retrato, obra do artista Danillo Lima

A carcaça me salva do espirito,
da condição andarilha e dos sustos – no grito.
O espírito tem outros planos para as suas fraquezas,
e ocupa os lugares mais incômodos das heranças –  no baú, as miudezas.
A carcaça não lê profecias estancadas nas feridas,
das águas ambíguas, das hipocrisias.
Mas, o espírito de destemor despudorado, enfrenta o tempo de escolha,
dos açoites e das horas frias.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Das coisas


Eu não quero ser "tarde demais” para as coisas intranquilas;

Do garfo, do coração, das coisas de antemão.

No entanto, eu só falo sobre o "nada" e me comovo com o que cai, subitamente, no chão.

E transbordo aquilo que não tem peso, tamanho e medida – coisas que não estão nas apostilas,

Dos que se escondem nos enredos, das coisas rasteiras e sombrias.

Desses fingimentos reais, das coisas de "graça" -  dessas ditas democráticas.

Eu tenho as obrigações dos que vivem,

Das coisas que cabem a cada um de nós.

Desde então, a flor desabrocha, o galo canta e a piada destoa – desfaçam os nós;

Das miudezas, das poeiras, das incertezas,

Do que está por trás de nós, é para todos nós.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Das Oliveiras

A arte entalhou a mulher das oliveiras
e fala dos seus afetos e de suas fronteiras,
dos espelhos que pairam sobre cada pétala - dela.
Sim, da mulher que abocanha todos os sentidos,
e que de nada sabia dos finitos, dos seus próprios escritos.
Agora, ela está fora do tempo dos convertidos
e segura os ciclos nas mãos de todos os pervertidos.

Ela não fragmenta mais os dias de si
e inteira faz eixo e consola os "de perto", num frenesi.
Faminta de ser mais do que o próprio corpo - tão torto,
e não tem mais idade, nem é cor e nem peso exposto.
Dá conta das formas que a beleza mostra pelo dorso,
dos "algos" que tem mais do quem acenam as mãos,
dos sentidos, dos perenes, dos que não podem acabar em vão.

A mulher cava da terra todos os símbolos,
dos risos vagos e dos discursos frívolos, e não tem mais ídolos.
Ela fala com a língua sem enfeite, linhas de corte e sem recorte.
As retóricas para os verbosos - dos que acham que tem sorte.
Enganam-se quem acha que a mulher não é desse mundo,
do real enxerga a graça e do que está imundo - pune com o próprio punho.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Dos meus inteiros

A flor da dor de Danillo Lima (releitura de Edvard Much)
Todos os meus inteiros acolhem pedaços de mim,
e sagram pendurados no varal lá de casa,
colorindo os meus lençóis de cetim. 
Todos os meus inteiros ajuntam surrados pudores.
tal é a minha tinhosa ojeriza
do hálito fétido desses acirrados inquisidores.

Todos os meus inteiros são filhos do pai,
e guiados pelos suores cartesianos,
atravessam as idades, sem mais.

Todos os meus inteiros cresceram assim;
sem os sagrados virginais cor de carmim,
e das horas maternas dos partos.
Coitada de mim!

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Das vésperas

Eu tenho horror às vésperas. Esperanças e esperas. De tudo o que resta - não resta nada. Mas eu nunca sei disso e sigo de olhos agarrados às chances - todas mínimas. É sempre tudo ou nada, desse medo que aperta e dói o dorso. E todas as minhas válvulas ricocheteiam o peito. Eu viro do avesso, sangro os poros; e o suor arde as minhas vistas, inundando-as. Dos líquidos, só o leite não escorre - era bonito. Eu sufoco os olhos apertados, dessa dor que rasga as calmas. Já as minhas costas pesam às vésperas. Das voltas que dei, das más vindas, dos recados mal dados, das coisas que ainda não sei. Todas as vezes, todas às vésperas, e sempre um pouco mais a cada promessa.