sexta-feira, 8 de junho de 2018

Das Oliveiras

A arte entalhou a mulher das oliveiras
e fala dos seus afetos e de suas fronteiras,
dos espelhos que pairam sobre cada pétala - dela.
Sim, da mulher que abocanha todos os sentidos,
e que de nada sabia dos finitos, dos seus próprios escritos.
Agora, ela está fora do tempo dos convertidos
e segura os ciclos nas mãos de todos os pervertidos.

Ela não fragmenta mais os dias de si
e inteira faz eixo e consola os "de perto", num frenesi.
Faminta de ser mais do que o próprio corpo - tão torto,
e não tem mais idade, nem é cor e nem peso exposto.
Dá conta das formas que a beleza mostra pelo dorso,
dos "algos" que tem mais do quem acenam as mãos,
dos sentidos, dos perenes, dos que não podem acabar em vão.

A mulher cava da terra todos os símbolos,
dos risos vagos e dos discursos frívolos, e não tem mais ídolos.
Ela fala com a língua sem enfeite, linhas de corte e sem recorte.
As retóricas para os verbosos - dos que acham que tem sorte.
Enganam-se quem acha que a mulher não é desse mundo,
do real enxerga a graça e do que está imundo - pune com o próprio punho.

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